Morreu neste domingo (2), aos 73 anos, em Belo Horizonte, o cantor e compositor Lô Borges, um dos nomes mais marcantes da música brasileira e cofundador do movimento Clube da Esquina ao lado de Milton Nascimento. A informação foi confirmada pela família do artista nesta segunda-feira (3).
VEJA MAIS


De acordo com a assessoria do hospital em que estava internado, Lô faleceu às 20h50, em decorrência de falência múltipla de órgãos. O músico estava na UTI desde 17 de outubro, após sofrer intoxicação por medicamentos. Durante o tratamento, chegou a passar por uma traqueostomia no dia 25 do mesmo mês.
Uma vida dedicada à música
Nascido Salomão Borges Filho, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, Lô era o sexto de 11 irmãos. Desde cedo, mostrou talento e sensibilidade musical. Aos 10 anos, em um encontro casual nas escadas de um prédio no centro da capital mineira, conheceu Milton Nascimento, que se tornaria seu grande parceiro artístico e amigo de toda a vida.
“Sentei na escadaria, dei de cara com um carinha tocando violão, era o Bituca. Eu tinha 10, ele tinha 20. Fiquei vendo o Bituca tocar, e ele me disse: ‘Você gosta de música, né, menino?’”, relembrou Lô em entrevista ao Conversa com Bial, em 2023.
Pouco tempo depois, conheceu também Beto Guedes, outro futuro integrante do grupo que revolucionaria a música brasileira. Foi nesse ambiente de amizade, poesia e experimentação que nasceu o Clube da Esquina, movimento que misturou MPB, rock, jazz e música latino-americana, transformando o cenário musical do país.
O marco do Clube da Esquina
O álbum Clube da Esquina (1972), parceria entre Lô Borges e Milton Nascimento, é considerado uma das maiores obras da música brasileira. Mais de 50 anos após o lançamento, o disco foi eleito o maior álbum nacional de todos os tempos e o nono melhor do mundo pela revista norte-americana Paste Magazine.
No mesmo ano, Lô lançou seu primeiro disco solo, o lendário “Disco do Tênis”, hoje cultuado como uma das maiores referências da MPB e do rock brasileiro. Entre seus sucessos eternizados estão “O Trem Azul”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” e “Paisagem da Janela”.
Recomeços e legado
Após o sucesso repentino, Lô se afastou dos palcos e passou um período em Arembepe, na Bahia, onde continuou compondo. Retornou em 1978 com o álbum “Via Láctea”, considerado um dos mais marcantes de sua carreira.
Na década de 1990, voltou a ganhar destaque com a parceria com Samuel Rosa, do Skank, na música “Dois Rios”. A partir de 2019, manteve o ritmo criativo e passou a lançar um álbum de inéditas por ano. Seu último trabalho, “Céu de Giz”, em parceria com Zeca Baleiro, foi lançado em agosto de 2025.
A trajetória de Lô Borges é símbolo da poesia mineira, da liberdade artística e da força coletiva da música brasileira. Sua voz, suas harmonias e suas letras seguirão ecoando nas esquinas do Brasil — onde tudo começou.