Corretores da redação do Enem 2024 relataram que receberam orientações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para penalizar candidatos que utilizarem repertórios socioculturais desconectados do tema ou memorizarem modelos prontos de textos.
Orientações aos corretores
De acordo com membros da banca examinadora em estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o Inep enfatizou, durante treinamentos presenciais realizados no último sábado (23), que fosse redobrada a atenção para identificar estratégias como:
- Uso de repertórios “forçados” ou desconexos, como menções genéricas a autores ou obras sem relação direta com o tema proposto.
- Modelos de redação memorizados, que resultam em textos com ideias mal elaboradas ou desconexas.
Segundo os corretores, o órgão destacou que tais práticas não atendem aos critérios de coerência, articulação e pertinência esperados na redação do Enem.
Nota oficial do Inep
Em resposta, o Inep declarou que todos os elementos apresentados na redação devem estar alinhados à proposta de texto. Embora o órgão não tenha especificado as novas orientações, reforçou que a coerência e a integração dos repertórios à discussão central são essenciais.
Penalizações previstas
Corretores indicaram que, dependendo do caso, os descontos podem variar de 40 a 80 pontos na competência nº2 (desenvolvimento do tema), podendo chegar a 200 pontos em situações de uso exclusivo de repertórios desconexos.
Uma das corretoras destacou:
“Eles pediram atenção especial para os ‘repertórios de bolso’, que precisam ser usados de maneira produtiva. Caso contrário, haverá penalização.”
Outro professor da banca explicou que referências genéricas ou “batidas”, como o poema No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade, ou a obra Utopia, de Thomas More, não serão necessariamente penalizadas, desde que estejam bem integradas ao texto.
Venda de modelos prontos e fraudes
Entre outubro e novembro, reportagens denunciaram a comercialização de modelos pré-prontos de redação por valores a partir de R$ 50. Esses textos incluem referências genéricas para serem adaptadas a diferentes temas, como:
“Já ensinava Sócrates: ‘Os erros são consequência da ignorância humana.’ Logo, é válido analisar as causas do [tema] no Brasil.”
Nas redes sociais, candidatos admitiram ter usado modelos memorizados ou até colado trechos de redações prontas durante o exame. O Inep afirmou que fraudes como estas podem resultar na desclassificação do participante.
Regras já estabelecidas
A Cartilha do Participante, divulgada em outubro, destaca que o candidato deve demonstrar habilidade em:
- Aplicar conceitos de diversas áreas do conhecimento para desenvolver o tema.
- Relacionar e organizar informações de maneira coerente e pertinente.
Embora a cartilha não mencione diretamente os modelos de redação ou os “repertórios coringa”, já fica claro que ideias desconexas ou mal justificadas prejudicam a pontuação.
O reforço nos critérios
Corretores apontaram que as novas orientações são um reforço das diretrizes já existentes. Durante os treinamentos, exemplos de redações de edições anteriores foram apresentados como casos que não deveriam ter alcançado a pontuação máxima.
Segundo o Inep, o objetivo é garantir que a nota reflita a habilidade do candidato em articular argumentos e repertórios de forma relevante e produtiva, valorizando a originalidade e o pensamento crítico.